quinta-feira, 5 de março de 2015

A MÁ NOTÍCIA NOSSA DE CADA DIA


Imagine a seguinte situação: você recebe uma mensagem no celular, por email ou até mesmo pessoalmente. A mensagem te deixa feliz, animado, muda o seu dia para melhor.

Que tipo de notícia poderia te proporcionar uma sensação assim? Uma notícia boa ou ruim? Certamente você dirá que é a boa. Estou certo? E acredito que uma notícia boa faz bem para a maioria das pessoas, não é? Então por que notícia ruim dá tanta audiência?

Ouvindo o episódio 443 do Podcast Café Brasil, apresentado pelo brilhantíssimo Luciano Pires, eu me inspirei a escrever este texto. Era algo que queria comentar há muito tempo, coisa que o episódio citado serviu para estimular.

No cast, Luciano Pires relatou sua experiência da qual tirou um dia inteiro para postar somente boas notícias em sua págína no Facebook. O resultado? Foi surpreendente e você pode conferir depois ouvindo o episódio.

Mas, afinal, o que tem de tão fantástico na notícia ruim para que ela seja tão destacada na mídia e as pessoas se interessarem tanto por elas? Notícia boa só é interessante quando nos convém? A tragédia alheia se tornou um entretenimento, uma diversão?

Já tem um certo tempo que parei de assistir à telejornais. Hoje me mantenho informado da atualidade por meio de portais de notícias, onde eu escolho sobre o que quero saber, algo como um self service da informação. Costumo ir direto nos menus, porque geralmente na página inicial a ênfase ainda é a notícia ruim.

Isso também não significa que eu esteja sujeito a uma negação dos fatos, da realidade. Pelo contrário. Só não me convém ser contaminado e influenciado pela negatividade que essas notícias impõem.

No telejornal, nem a previsão do tempo escapa. Eles focam nas regiões onde o dia será nublado e com trovoadas. Daí para frente é ladeira abaixo. Só desgraça.

Isso porque citei os grandes telejornais brasileiros. E aqueles programas regionais que se dizem jornalísticos, que normalmente vão ao ar no horário de almoço? Você está almoçando ao mesmo tempo que ouve dizer que Fulano atingiu Sicrano a golpes de faca. Tudo isso com imagens e relatos de testemunhas, da vítima e até do culpado agonizando de dor.

Qual a importância d'eu saber isso? O que agrega na minha vida? Nada! E é curioso notar que milhares de pessoas estão ligadas em um, dois ou três programas similares que disputam a audiência naquele horário. Vence quem mostra mais sangue, mais assaltos, mais confrontos.

E muitos desses programas policiais sensacionalistas passam uma imagem disfarçada de assistencialistas, preocupados com a população. Sinceramente, se você dá audiência a esse tipo de programação, não reclame que sua vida está uma mer*a. O foco em uma coisa, atrai outra igual.

Contudo, torna-se uma tarefa difícil moldarmos isso em nossa vida. As notícias ruins estão escancaradas em todos os lugares: nos telejornais, na timeline e, pior, nas conversas entre amigos e familiares. Sempre tem alguém que coloca a desgraça, a tragédia na pauta do assunto. Algo do tipo "Você soube o que aconteceu com a Fulana?"; "Ficou sabendo daquele acidente de trânsito na rodovia?"; "Sabe quem morreu?"... E por aí vai. Às vezes não dá pra mudar o canal social e temos que aturar.

A mídia se fortalece com a tragédia. Um exemplo recente disso foi a estreia de um programa, cujo apresentador fez muito sucesso nos anos 90 com o seu programa de auditório aos domingos. Como o sujeito estava há muito tempo fora da mídia, em sua volta resolveu entrevistar uma condenada por participar brutalmente do assassinato dos pais. Resultado: 1° lugar no IBOPE!

A mídia sabendo dessa preferência nacional por notícia ruim, não mede esforços em promover esse tipo de informação.

Fiquei imaginando como seriam as manchetes de um telejornal só com notícias boas. Desde economia, política, esportes... Na Política, principalmente, isso poderia ser uma grande armadilha; já que notícias boas poderiam mascarar as falcatruas governamentais. Elas passariam a imagem de que determinados políticos seriam bonzinhos. Os sites e propagandas de partidos políticos já fazem esse papel.

Parece até então que notícia boa é fantasia, ficção, ou até mesmo utopia. Seria algo como tomei a liberdade de criar em forma de manchetes fictícias de como seria um jornal com notícias que gostaríamos de ler.


Falando nisso, existe um site do portal Uol que se especializou em filtrar somente notícia boa, e se você der uma rápida lida nas notícias da Home, verá que elas dificilmente teriam audiência nos programas jornalísticos.


Esse é outro ponto que o Luciano Pires citou em seu programa: a avalanche de notícia ruim nos torna pessimistas.