Uma das minhas principais características desde criança é fazer aquilo que eu gosto de consumir. Ou seja, com o tempo, por me interessar tanto pelo assunto, além de ser um consumidor, na maioria das vezes eu sempre me torno um produtor.
Como alguns exemplos, posso citar quando tive os meus
primeiros contatos com a leitura com os quadrinhos da Turma da Mônica. Eles
foram a porta de entrada para pouco tempo depois eu criar meus próprios
personagens, as minhas próprias histórias; ainda com limitações na escrita e
nos desenhos. Com estes, em particular, nunca fui bom mesmo.
Teve também a experiência de começar a ouvir Rock e
consequentemente compor minhas próprias músicas e até montar uma banda por
brincadeira.
Atualmente, posso usar como exemplo a minha participação em Podcast. Outro tipo de conteúdo que conheci e passei a consumir há mais de três
anos. Quando dei por mim, estava do outro lado, ajudando a produzir e a
propagar. Em outra ocasião falo melhor sobre essa mídia aqui no blog.
Mas uma das coisas que mais me deu satisfação em produzir
após ser um grande consumidor foi a experiência com rádio que, de certa forma,
contribuiu para produzir podcasts agora.
Eu me interessei por música na adolescência, ouvindo Rock.
Antes disso, qualquer coisa era música. Qualquer coisa mesmo. Não ligava. Pouco
me importava.
Crédito: Rodolfo Cruz |
Como eu não tinha nenhum envolvimento com a equipe responsável (apesar de um dia eu ter deixado um CD dos Raimundos tocando a manhã inteira), eu só ficava de longe observando e pensando que poderia fazer melhor.
Nos fins de semana em casa, com o Mini System, eu simulava
sequências musicais com os CDs que eu tinha. Aproveitava que o aparelho tinha
aquela bandeja onde cabiam três discos e fazia das minhas tardes divertidas,
brincando de rádio com as músicas que eu gostava.
Alguns anos depois, minha paixão por música (Rock) só aumentou.
Já contava com um bom acervo em meu computador. E foi em uma madrugada de 2003
para 2004 que eu descobri a magia das web rádios. Emissoras que transmitiam sua
programação pela internet. Esta ainda arcaica. Ouvir rádios online com conexão
discada era um sacrifício. E sinceramente? Até hoje eu não sei como eu
conseguia.
Aquilo pra mim foi fascinante, porque eu não só estava
descobrindo uma maneira diferente de ouvir rádio, mas também descobrindo o que
era rádio com segmentação. Óbvio que a primeira rádio online que ouvi era de
Rock. A vontade de fazer aquilo que eu estava consumindo, tomava conta de mim. Ainda
sou ouvinte assíduo de web rádios.
Uma coisa que faz parte da minha vida é que tudo aquilo que
desejo ou penso, acaba acontecendo cedo ou tarde; quase que inevitavelmente. É
como se eu atraísse pra perto de mim, mesmo sem fazer muito esforço. Ser
podcaster foi assim.
Alguns dirão que é destino, lei da atração ou até irão citar
"The Secret". Não sei. Mas
se eu gostei de algo e sinto que aquilo vai me satisfazer, o universo vai preparar
esse algo pra mim; mesmo que seja para daqui a dez anos.
Pois bem... No segundo semestre de 2004, na Faculdade de
Publicidade, inscrevemos um projeto em uma feira de tecnologia promovida pela
própria instituição: o CEFET-AM, que hoje é o IFAM. Vale lembrar que também fiz
o ensino médio em uma das unidades dessa instituição.
A ideia de participar da feira não partiu de mim, mas sim de
um dos meus colegas de turma que demonstrou interesse em inscrever algum
projeto. Com isso, ele pediu apoio dos demais colegas, incluindo eu. De uma
turma de vinte e cinco alunos, pelo menos dez fizeram parte da equipe,
além do professor orientador: Everton Arruda.
Qual era a ideia do projeto? A rádio interna do CEFET com o
objetivo de comunicar, informar e entreter alunos, professores e funcionários. Isso
porque o curso passou a contar com um laboratório de áudio e vídeo equipado
para produções acadêmicas e toda a estrutura para um estúdio de rádio. Quando
essa informação chegou até mim, meus olhos brilharam.
Com o projeto de nome Rádio Alta Frequência, montamos um
estande na exposição, todo customizado. Não só promovemos a ideia da rádio como
também animamos o ambiente fazendo sorteios, interagindo com os visitantes. Foi
uma festa.
Para nossa surpresa, ficamos com o 1º lugar na exposição
dentro da categoria da qual fazíamos parte. A festa só aumentou e todos nós comemoramos. Mas, ficou por isso mesmo e o projeto foi engavetado.
No ano
seguinte, em 2005, a instituição recebeu um novo professor: o Dr. Djalma Paz,
que iria lecionar as disciplinas de áudio e vídeo durante aquele semestre. Foi
quando ele, sabendo do projeto apresentado e conhecendo a estrutura que a
faculdade disponibilizava, tomou a frente de fazer com que tudo aquilo se
tornasse realidade e me chamou para fazer parte da equipe; juntamente com o
técnico de som Marcelo Átila e alguns alunos do curso de Publicidade. O projeto
vencedor finalmente nasceria e com o nome de Rádio CEFET.
O CEFET (Ifam), cuja área é do tamanho de um quarteirão
inteiro, começou a receber as instalações das caixas de som e cabos que iriam
propagar o áudio direto do estúdio. Montamos uma equipe pequena e trabalhamos
bastante para fazer acontecer. Eu tive o prazer de acompanhar de perto todo o
processo de instalação e testes.
Em julho de 2005, após a volta do recesso de primeiro
semestre, a Rádio CEFET finalmente começou suas atividades comigo na gerência,
apresentação e produção. Todos os dias, às 10h da manhã, eu iniciava a
programação com a vinheta "Rádio CEFET, programação de qualidade" e a
música "Escola História" da banda local Teoria Arcana.
A rádio foi um sucesso na comunidade, principalmente entre
os alunos adolescentes, uma vez que no mesmo prédio encontrávamos alunos do ensino
médio, técnico, graduação e pós-graduação.
Entrevista com a banda Teoria Arcana |
Como estilos de música tínhamos MPB, Flashback, Música
clássica, Instrumental, Jazz e, é claro, Rock. Muito Rock. A principal
característica da rádio foi também de divulgar artistas locais, contando
inclusive com algumas entrevistas no próprio estúdio. Os alunos pediam músicas,
interagiam. Fiz muitos amigos lá.
Eu costumava ficar até as 13h porque tinha aula no período
da tarde. Era quando eu passava a vez para os parceiros de estúdio e eles
comandavam a programação que ia até o início da noite, alcançando os estudantes noturnos que estavam chegando.
Mas sempre que tinha um intervalo, eu estava indo lá
conferir como estavam as coisas. E quando eu tinha a noite livre na outra
faculdade que eu também estudava, eu prolongava a programação da Rádio CEFET
até mais tarde, voltando para o estúdio.
No fim de 2006, já formado em Publicidade e com malas
prontas para o Paraná, tive que me despedir da rádio. Com o fim do ano letivo,
a rádio encerrou suas atividades também por causa do recesso. Ainda fiquei por mais uma semana ali,
organizando tudo para quem fosse me substituir no ano seguinte.
O clima já era de despedida com corredores vazios, sem
alunos, alguns poucos professores fechando notas e relatórios anuais. As caixas
de som externas já não tocavam mais nada. E eu no estúdio, apenas com o som
interno, via-me tentando praticar o desapego.
Mas não teve jeito. Lembro exatamente do último dia daquela
semana solitária. Era uma sexta-feira, 4 da tarde. Fui desligando aos poucos e
lentamente todos os equipamentos. Tocando em cada um deles da mesma forma que
o químico Walter White se despediu do laboratório, no último episódio de Breaking Bad.
Após todos os equipamentos devidamente desligados andei em direção à porta,
meio que de marcha ré, despedindo-se daquele ambiente que tanto me fez feliz.
Desligar a chave geral e deixar a sala às escuras, foi o
"the end" pra mim. Voltando a citar Breaking Bad, certamente a música
"Baby Blue" da banda Badfinger poderia ter sido a trilha perfeita
para combinar com aquele momento de fechamento de um ciclo.
Até o apagar das luzes ainda houve o fato de recuperar a aparência do rosto, já que cheguei a estar com os olhos marejados e eu ainda iria devolver as chaves. Por isso, não queria demonstrar que um marmanjo estava chorando.
No corredor vazio e silencioso, vinha na mente a imagem daquele lugar cheio de alunos, curtindo as músicas com o pensamento de que o projeto iria continuar no próximo ano letivo e que eu já tinha feito a minha parte.
Na sala estava o Professor Djalma. Entreguei as chaves e agradeci pela confiança, ensinamento e pela maravilhosa experiência de ter participado daquela comunidade, promovendo entretenimento e diversão. Na verdade, aquele agradecimento pessoal foi uma forma de agradecer por todos que direta ou indiretamente contribuíram para que aquele projeto se tornasse realidade: colaboradores, professores, ouvintes.
Longe de lá, já morando aqui no Paraná, soube depois que a rádio não durou por muito tempo. Afinal, ainda tinha amigos ouvintes que me mantinham informado. E claro, eu sempre queria saber. A rádio depois de um tempo fechou. Voltei lá alguns anos depois, mas tudo estava diferente; apesar de estar com uma estrutura muito melhor. Mas a rádio não existia mais.
Para tentar resgatar aquele período que passei lá, em 2010 montei minha web rádio; mas com o segmento 100% Rock. É a Rádio Rocks que é até hoje o meu hobby, a minha filha querida, com programação 24 horas.
Mas por que estou falando sobre tudo isso só agora? Neste
ano de 2015, dez anos depois de sua inauguração oficial, o professor Djalma Paz
e o Marcelo - da mesma equipe inicial - retomaram as atividades do projeto. Claro
que ainda em caráter experimental, na web: a Rádio IFAM.
E ouvir as músicas tocando, mesmo sem vinhetas, apenas com um playlist aleatório me deixou bastante feliz. Isso porque reconheço algumas das músicas e tenho certeza que muitas delas ainda pertencem ao acervo que ajudei a construir lá no passado. Ou seja, de certa forma, ainda faço parte daquilo.
Não sei quais são as intenções com o novo projeto, mas desejo que ele dê certo e que possa fazer parte de uma nova geração de alunos daquela instituição que por 8 anos (contando ensino médio, técnico e faculdade) foi a minha segunda casa.
O meu desejo é que algo possa ser aproveitado com essa iniciativa de resgatar um trabalho brilhante, de equipe e divertido que um dia foi a Rádio CEFET. Que a programação de qualidade continue sempre, a partir de agora nessa nova jornada com a Rádio IFAM.
Deixo aqui minhas eternas saudades da Rádio CEFET, programação de qualidade.
Para ouvir a rádio web Ifam, em caráter experimental, basta acessar o link abaixo: