sábado, 4 de julho de 2015

RÁDIO CEFET - PROGRAMAÇÃO DE QUALIDADE


Uma das minhas principais características desde criança é fazer aquilo que eu gosto de consumir. Ou seja, com o tempo, por me interessar tanto pelo assunto, além de ser um consumidor, na maioria das vezes eu sempre me torno um produtor.

Como alguns exemplos, posso citar quando tive os meus primeiros contatos com a leitura com os quadrinhos da Turma da Mônica. Eles foram a porta de entrada para pouco tempo depois eu criar meus próprios personagens, as minhas próprias histórias; ainda com limitações na escrita e nos desenhos. Com estes, em particular, nunca fui bom mesmo.

Teve também a experiência de começar a ouvir Rock e consequentemente compor minhas próprias músicas e até montar uma banda por brincadeira.

Atualmente, posso usar como exemplo a minha participação em Podcast. Outro tipo de conteúdo que conheci e passei a consumir há mais de três anos. Quando dei por mim, estava do outro lado, ajudando a produzir e a propagar. Em outra ocasião falo melhor sobre essa mídia aqui no blog.

Mas uma das coisas que mais me deu satisfação em produzir após ser um grande consumidor foi a experiência com rádio que, de certa forma, contribuiu para produzir podcasts agora.

Eu me interessei por música na adolescência, ouvindo Rock. Antes disso, qualquer coisa era música. Qualquer coisa mesmo. Não ligava. Pouco me importava.

Crédito: Rodolfo Cruz
Certa vez, no ensino médio, vi um grupo de alunos, com o apoio do grêmio da escola, organizando uma rádio interna que consistia em uma única caixa de som localizada em uma alta coluna na cantina; cujos fios iam até uma sala que ficava ali próximo. Era a sede do grêmio. Nesta sala havia um antigo aparelho de som, onde geralmente se deixava um cd inteiro tocando. Às vezes alguém falava com microfone. A "rádio" da escola estava inaugurada e se resumia apenas nisso. A caixa, a propósito, foi retirada faz pouco tempo, ficando lá por mais uma década.


Como eu não tinha nenhum envolvimento com a equipe responsável (apesar de um dia eu ter deixado um CD dos Raimundos tocando a manhã inteira), eu só ficava de longe observando e pensando que poderia fazer melhor. 

Nos fins de semana em casa, com o Mini System, eu simulava sequências musicais com os CDs que eu tinha. Aproveitava que o aparelho tinha aquela bandeja onde cabiam três discos e fazia das minhas tardes divertidas, brincando de rádio com as músicas que eu gostava. 

Alguns anos depois, minha paixão por música (Rock) só aumentou. Já contava com um bom acervo em meu computador. E foi em uma madrugada de 2003 para 2004 que eu descobri a magia das web rádios. Emissoras que transmitiam sua programação pela internet. Esta ainda arcaica. Ouvir rádios online com conexão discada era um sacrifício. E sinceramente? Até hoje eu não sei como eu conseguia.

Aquilo pra mim foi fascinante, porque eu não só estava descobrindo uma maneira diferente de ouvir rádio, mas também descobrindo o que era rádio com segmentação. Óbvio que a primeira rádio online que ouvi era de Rock. A vontade de fazer aquilo que eu estava consumindo, tomava conta de mim. Ainda sou ouvinte assíduo de web rádios.

Uma coisa que faz parte da minha vida é que tudo aquilo que desejo ou penso, acaba acontecendo cedo ou tarde; quase que inevitavelmente. É como se eu atraísse pra perto de mim, mesmo sem fazer muito esforço. Ser podcaster foi assim.

Alguns dirão que é destino, lei da atração ou até irão citar "The Secret". Não sei. Mas se eu gostei de algo e sinto que aquilo vai me satisfazer, o universo vai preparar esse algo pra mim; mesmo que seja para daqui a dez anos.

Pois bem... No segundo semestre de 2004, na Faculdade de Publicidade, inscrevemos um projeto em uma feira de tecnologia promovida pela própria instituição: o CEFET-AM, que hoje é o IFAM. Vale lembrar que também fiz o ensino médio em uma das unidades dessa instituição.

A ideia de participar da feira não partiu de mim, mas sim de um dos meus colegas de turma que demonstrou interesse em inscrever algum projeto. Com isso, ele pediu apoio dos demais colegas, incluindo eu. De uma turma de vinte e cinco alunos, pelo menos dez fizeram parte da equipe, além do professor orientador: Everton Arruda.

Qual era a ideia do projeto? A rádio interna do CEFET com o objetivo de comunicar, informar e entreter alunos, professores e funcionários. Isso porque o curso passou a contar com um laboratório de áudio e vídeo equipado para produções acadêmicas e toda a estrutura para um estúdio de rádio. Quando essa informação chegou até mim, meus olhos brilharam.

Com o projeto de nome Rádio Alta Frequência, montamos um estande na exposição, todo customizado. Não só promovemos a ideia da rádio como também animamos o ambiente fazendo sorteios, interagindo com os visitantes. Foi uma festa. 

Para nossa surpresa, ficamos com o 1º lugar na exposição dentro da categoria da qual fazíamos parte. A festa só aumentou e todos nós comemoramos. Mas, ficou por isso mesmo e o projeto foi engavetado. 

No ano seguinte, em 2005, a instituição recebeu um novo professor: o Dr. Djalma Paz, que iria lecionar as disciplinas de áudio e vídeo durante aquele semestre. Foi quando ele, sabendo do projeto apresentado e conhecendo a estrutura que a faculdade disponibilizava, tomou a frente de fazer com que tudo aquilo se tornasse realidade e me chamou para fazer parte da equipe; juntamente com o técnico de som Marcelo Átila e alguns alunos do curso de Publicidade. O projeto vencedor finalmente nasceria e com o nome de Rádio CEFET. 


O CEFET (Ifam), cuja área é do tamanho de um quarteirão inteiro, começou a receber as instalações das caixas de som e cabos que iriam propagar o áudio direto do estúdio. Montamos uma equipe pequena e trabalhamos bastante para fazer acontecer. Eu tive o prazer de acompanhar de perto todo o processo de instalação e testes.

Em julho de 2005, após a volta do recesso de primeiro semestre, a Rádio CEFET finalmente começou suas atividades comigo na gerência, apresentação e produção. Todos os dias, às 10h da manhã, eu iniciava a programação com a vinheta "Rádio CEFET, programação de qualidade" e a música "Escola História" da banda local Teoria Arcana

A rádio foi um sucesso na comunidade, principalmente entre os alunos adolescentes, uma vez que no mesmo prédio encontrávamos alunos do ensino médio, técnico, graduação e pós-graduação. 

Entrevista com a banda Teoria Arcana
Como estilos de música tínhamos MPB, Flashback, Música clássica, Instrumental, Jazz e, é claro, Rock. Muito Rock. A principal característica da rádio foi também de divulgar artistas locais, contando inclusive com algumas entrevistas no próprio estúdio. Os alunos pediam músicas, interagiam. Fiz muitos amigos lá.

Eu costumava ficar até as 13h porque tinha aula no período da tarde. Era quando eu passava a vez para os parceiros de estúdio e eles comandavam a programação que ia até o início da noite, alcançando os estudantes noturnos que estavam chegando.

Mas sempre que tinha um intervalo, eu estava indo lá conferir como estavam as coisas. E quando eu tinha a noite livre na outra faculdade que eu também estudava, eu prolongava a programação da Rádio CEFET até mais tarde, voltando para o estúdio. 

No fim de 2006, já formado em Publicidade e com malas prontas para o Paraná, tive que me despedir da rádio. Com o fim do ano letivo, a rádio encerrou suas atividades também por causa do recesso.  Ainda fiquei por mais uma semana ali, organizando tudo para quem fosse me substituir no ano seguinte.

O clima já era de despedida com corredores vazios, sem alunos, alguns poucos professores fechando notas e relatórios anuais. As caixas de som externas já não tocavam mais nada. E eu no estúdio, apenas com o som interno, via-me tentando praticar o desapego.

Mas não teve jeito. Lembro exatamente do último dia daquela semana solitária. Era uma sexta-feira, 4 da tarde. Fui desligando aos poucos e lentamente todos os equipamentos. Tocando em cada um deles da mesma forma que o químico Walter White se despediu do laboratório, no último episódio de Breaking Bad. 

Após todos os equipamentos devidamente desligados andei em direção à porta, meio que de marcha ré, despedindo-se daquele ambiente que tanto me fez feliz. 

Desligar a chave geral e deixar a sala às escuras, foi o "the end" pra mim. Voltando a citar Breaking Bad, certamente a música "Baby Blue" da banda Badfinger poderia ter sido a trilha perfeita para combinar com aquele momento de fechamento de um ciclo.


Até o apagar das luzes ainda houve o fato de recuperar a aparência do rosto, já que cheguei a estar com os olhos marejados e eu ainda iria devolver as chaves. Por isso, não queria demonstrar que um marmanjo estava chorando.

No corredor vazio e silencioso, vinha na mente a imagem daquele lugar cheio de alunos, curtindo as músicas com o pensamento de que o projeto iria continuar no próximo ano letivo e que eu já tinha feito a minha parte.

Na sala estava o Professor Djalma. Entreguei as chaves e agradeci pela confiança, ensinamento e pela maravilhosa experiência de ter participado daquela comunidade, promovendo entretenimento e diversão. Na verdade, aquele agradecimento pessoal foi uma forma de agradecer por todos que direta ou indiretamente contribuíram para que aquele projeto se tornasse realidade: colaboradores, professores, ouvintes.

Longe de lá, já morando aqui no Paraná, soube depois que a rádio não durou por muito tempo. Afinal, ainda tinha amigos ouvintes que me mantinham informado. E claro, eu sempre queria saber. A rádio depois de um tempo fechou. Voltei lá alguns anos depois, mas tudo estava diferente; apesar de estar com uma estrutura muito melhor. Mas a rádio não existia mais. 

Para tentar resgatar aquele período que passei lá, em 2010 montei minha web rádio; mas com o segmento 100% Rock. É a Rádio Rocks que é até hoje o meu hobby, a minha filha querida, com programação 24 horas.

Mas por que estou falando sobre tudo isso só agora? Neste ano de 2015, dez anos depois de sua inauguração oficial, o professor Djalma Paz e o Marcelo - da mesma equipe inicial - retomaram as atividades do projeto. Claro que ainda em caráter experimental, na web: a Rádio IFAM.

E ouvir as músicas tocando, mesmo sem vinhetas, apenas com um playlist aleatório me deixou bastante feliz. Isso porque reconheço algumas das músicas e tenho certeza que muitas delas ainda pertencem ao acervo que ajudei a construir lá no passado. Ou seja, de certa forma, ainda faço parte daquilo.

Não sei quais são as intenções com o novo projeto, mas desejo que ele dê certo e que possa fazer parte de uma nova geração de alunos daquela instituição que por 8 anos (contando ensino médio, técnico e faculdade) foi a minha segunda casa.

O meu desejo é que algo possa ser aproveitado com essa iniciativa de resgatar um trabalho brilhante, de equipe e divertido que um dia foi a Rádio CEFET. Que a programação de qualidade continue sempre, a partir de agora nessa nova jornada com a Rádio IFAM.

Deixo aqui minhas eternas saudades da Rádio CEFET, programação de qualidade.

Para ouvir a rádio web Ifam, em caráter experimental, basta acessar o link abaixo:


2 comentários:

Anônimo disse...

Que história bacana cara!

Álvaro Xavier

Paulinh@=) disse...

Mas olhaaaaaaa... foi textão, mas suuuuuuuper valeu hein...

Bacana entender melhor essa sua relação tão forte com a música... entendi o orgulho e carinho que tu tens com a Rocks...

Texto bacana demais!!!

(Y) Curti!